O sol é grande, caem co'a calma as aves
Do tempo em tal sazão que soe ser fria.
Esta água que d'alto cai acordar-me-ia?
Do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas todas vãs, todas mudaves!
Qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam d'amores.
Tudo é seco e mudo, e de mestura,
Também mudando-m'eu fiz d'outras cores,
E tudo mais renova: isto é sem cura.
Francisco de Sá de Miranda
Sem comentários:
Enviar um comentário